Olá, pessoal! Estou de volta com o UNIVERSO VIRTUAL e hoje trago uma nova resenha. Espero que gostem.
Após alguns capítulos serem veiculados pela Widcyber no ano passado, a novela Estação Medicina foi relançada em janeiro, em grande estilo.
Segue um trecho da sinopse: “Em Estação Medicina temos a trajetória de jovens estudantes, após ingressarem na famosa universidade filantrópica Olímpius, os desafios que precisam enfrentar nesta nova etapa de suas vidas (…) Goram, mocinho protagonista, por exemplo, era filho de Orlando Moça, um grande cirurgião de renome, com Eloá Cristina, uma advogada criminalista famosa, quando se viu entre a vida e a morte, aos 5 anos de idade, após a armação de seu irmão Mateus,18, junto do namorado Bernardo que assassinaram seus pais e o empurraram dentro de um rio em altas correntezas. Mas foi salvo por uma tribo indígena e desde então planeja sua vingança contra o herdeiro do hospital-escola Olímpius.”
Vamos dar uma olhada nos acontecimentos do capítulo 24?
Título: Nocaute. Goram contava suas reais intenções para duas amigas quando se dá conta de que Araponga ouvira tudo. A indígena se nega a acreditar, mas Goram tenta convencê-la de que Bernardo matou os pais do estudante no passado. Assim que ela foge do apartamento de Adelaide, onde se passa o diálogo, ele tenta correr atrás dela, sem sucesso. Fica encharcado por causa da chuva forte em meio à cidade. Revoltado e com medo do que a moça possa fazer contra ele. Enquanto isso, uma cena chocante ocorre num motel. Gilberto amarra a jovem Giovana na cama e força carícias nada prazerosas de um estupro. O homem toca as partes íntimas dela sem sequer lubrificar a mão. Falando em dor, André espera por atendimento na ala do SUS do hospital universitário após um acidente enquanto malhava. Tentou levantar um peso maior do que poderia, e o aparelho caiu sobre seu tórax, o que fez quebrar algumas costelas. Eleonor, mãe do rapaz, apela por ajuda, até que, cenas depois, consegue a atenção da médica Rita. Ela envia o rapaz para o exame de raio X após ministrar alguns analgésicos.
Araponga volta para casa e, na tentativa de contar o plano de Goram, tenta telefonar para Bernardo, mas ele não atende por estar no sétimo sono. Longe dali, estudantes conversam sobre as difíceis provas que estão por vir na faculdade. Enquanto isso, no bar do Esteto, Goram aproveita a aproximação de Mateus para forçar mais uma noitada. Sabendo que Mateus é o parceiro amoroso de Bernardo, o anti-herói usa-o como isca para se aproximar do vilão e se vingar deste. Em um hotel de luxo, os dois bebem bastante champanhe, até que o mais velho cai na cama e Goram joga o celular do outro pela privada.
Dia seguinte. O jornal universitário espalha entre os discentes, pelo impresso do dia, a notícia do corte de parte da verba para o SUS pela reitoria. Araponga, por sua vez, conta a Bernardo sobre a confissão de Goram. André não precisa de cirurgia, pois os danos nas costelas não foram tão graves como suspeitavam. Mateus convida Goram para almoçar na casa dele. O futuro médico aproveita para colocar em prática um plano para obter Bernardo em suas mãos: transmite pela TV a cena da morte de Pâmela, então grávida do filho do vilão. Mateus chega bem na hora, mas Goram desliga a tempo e quer que Bernardo confesse o crime ao amado. Xi! O capítulo seguinte promete esquentar.
Estação Medicina é o primeiro projeto em roteiro de Charlotte Marx, conhecida por séries, contos e webfilmes em narrativa (literário) como Entropia e Águas de Março, também da Widcyber. A autora demonstra um bom desenvolvimento nas técnicas de escrita no formato a que acaba de se aventurar. Descrições limpas e sintéticas, com raras intervenções do literário e uso moderado de comandos de edição (como o famoso “corta para”). Diálogos fluidos, coerentes e naturais na maior parte do capítulo, de acordo com a necessidade de cada cena. Charlotte mostra experiência também com o desenrolar das cenas mais impactantes, como a do estupro de Giovana, da aflição de Eleonor em busca de um médico ou da tensão na sequência final. Tudo que já podia ser visto em trabalhos anteriores da autora.
Outro ponto positivo é que Estação Medicina é, de fato, uma novela com cara de novela. Não aquela tradicional com um casal apaixonado e sofredor e uma vilã doida por uma maldade a cada cena, mas uma novela com seus elementos mais primordiais de ser um novelo que se desenrola aos poucos, como dizia Janete Clair. Sem pressa de resolver muitos conflitos de uma vez só, como é comum nas séries.
Sobre os personagens, começo por Goram. Ele é o protagonista com mil camadas que são aproveitadas ao máximo: rapaz criado com os indígenas; estudante que sonha em ser um grande médico, engajado com as causas sociais e humanitárias; jovem traumatizado com a perda dos pais e que luta pela justiça, mesmo que de uma forma nem sempre muito correta; tem virtudes e defeitos, e entre estes estão a capacidade de manipular pessoas, assim como faz com Mateus. Este, Bernardo e Araponga são outros destaques da trama e mostram como é curiosa a composição de cada um no que tange às expectativas, aos desejos e às motivações. Tudo neles tem um porquê.
Quanto aos aspectos gramaticais, estão presentes algumas inadequações na ortografia e na pontuação, como a falta da vírgula para separar os vocativos. Cuidado! Também me chamou a atenção a seguinte descrição na cena 06: “Eleonor não encontra frustrada nenhum médico.”. A construção da frase ficou meio esquisita. Uma mudança de ordem das palavras já deixaria a mensagem mais eficiente: “Eleonor não encontra nenhum médico e fica frustrada.”.
Um elemento muito interessante está na adoção de termos técnicos da medicina, já que a autora é estudante da área na vida real e consegue transmitir o conhecimento com segurança e confiança. Os casos abordados na novela, mesmo os mais complexos e pouco divulgados na mídia comum, são frequentes no ambiente médico. Há também o estudo aprofundado sobre as questões sociais da atualidade, como o racismo e a cultura do estupro, amplamente divulgados a fim de conscientizar os leitores como parte da história. Não há aquela coisa do “lacrar por lacrar”; há seriedade. Mais um tema importante é a vida e linguagem indígena, presente nas falas e nos modos de personagens como Goram e Araponga.
Se você gosta de ler histórias e aprender bastante com elas — além de se divertir e se emocionar, claro —, tem uma ótima pedida com Estação Medicina. A atração é postada periodicamente nas noites da Widcyber.
Na próxima resenha, trago uma obra de Samuel Brito, diferente do que ele tem apresentado até hoje. Que tal um livro de poesias?
Espero vocês em breve! Um abraço!