Olá, pessoal! Prontos pra próxima resenha aqui do Universo Virtual?
Desta vez, decidi dar uma espiada numa emissora diferente das que costumo ler e escolhi a Ranable Webs. É uma plataforma bastante ativa atualmente e que rende muita história boa. Uma das de maior qualidade no Mundo Virtual. Aí busquei uma obra na base do “mamãe mandou eu escolher esse daqui…” — só que não —, e fiquei com o título que me pareceu mais interessante. Mais do que isso: a autora comenta bastante nas postagens da Érika G. na coluna Adoro Web, da Digg TV. Trata-se de Ouro Blindado, de Selma Dumont.
Conta-se a história de Carlos, um joalheiro que luta pelo sucesso da joalheria que dá nome à atração e que precisa lidar com a oposição do irmão invejoso, Paulo, e com a revolta da filha mais velha, Rafaela. Enquanto isso, Paulo precisa enfrentar os fantasmas do passado e a dissolução de sua família. O folhetim tem 23 capítulos ao todo. Li o primeiro e venho agora com as primeiras impressões.
2008. O casal Carlos e Tamara está em crise financeira e sob risco de fechar a loja de joias, embora eles se mantenham sempre unidos e otimistas. Ainda assim, não conseguem realizar a festa de 15 anos com que Rafaela tanto sonha. Esta se torna rebelde e arredia, além de se sentir largada pelos pais. Nem mesmo um celular de presente a anima. Esboça algum sorriso apenas quando colegas a parabenizam no corredor da escola. Porém, reage novamente quando a diretora cobra a mensalidade atrasada. Mais tarde, já na loja, Carlos e Tamara veem uma reforma no estabelecimento em frente, fechado há tempos. Trata-se de um plano de Paulo para prejudicar o irmão e roubar-lhe os clientes.
Dolly é uma das filhas de Paulo. Já na primeira aparição, solta o veneno com comentários pra lá de racistas. Sonha em entrar para uma escola particular para não ter que conviver com negros. Rafaela, por sua vez, discute com a irmã à mesa e sai para dar uma volta na praia. Lá, sente o coração bater forte ao trocar olhares com a garota dos sonhos, não identificada no capítulo — ganha destaque mais pra frente. Na Ouro Blindado, Tamara pensa em renovar o ambiente, e uma funcionária sugere a designer Juliana, que logo faz um verdadeiro milagre. É quando Carlos descobre a tramoia de Paulo e parte pra briga. Questiona o fato de o vilão decidir, “do nada”, investir no mesmo ramo e esfrega na cara dele a perda dos terrenos herdados do pai por causa do vício em jogos.
Dois anos depois. Rafaela não consegue esquecer a menina da praia e tenta encontrá-la sem sucesso. Paulo tenta ludibriar uma cliente com o falso conserto de uma joia e se dá mal. Juliana, por sua vez, ajuda Carlos e Tamara a recuperar o sucesso e a prosperidade financeira. Margareth não se conforma com o fracasso de Paulo e lhe exige o divórcio. A discussão se estende a Fernanda e Dolly. A mãe simplesmente se afasta das meninas em vez de agir com maturidade e firmeza. Pegou mal. Pior ainda acontece quando Rafaela ouve os pais planejarem a festa de 15 anos de Paola, a irmã mais nova. Pensa: por que ela pode e eu não? Mais uma vez, sente-se rejeitada. Fim do capítulo.
Escrita em roteiro. Na primeira cena, a panorâmica da Zona Sul carioca e a fachada da Ouro Blindado se misturam na descrição um pouco confusa. Na cena 02, a fala de Elaine, a funcionária, ficou muito curta para a cena. A autora poderia fazer a moça explicar um pouco mais sobre a joia, até para dar um chamariz a mais aos leitores, para eles imaginarem e “saborearem” um pouco mais o cenário. Na cena 08, o flashback poderia ter sido substituído por um INSERT, que daria um efeito ainda melhor à colagem da fachada da loja em reforma em meio à conversa do casal no carro, sem quebrar o ritmo.
Um ponto que me incomodou durante todo o capítulo está nas aparições dos vilões, das atitudes aos diálogos. Um ou outro personagem se apresentar histriônico, se for da construção dele, até enriquece a narrativa; mas, no episódio, faltou sutileza em todos. Vejam um exemplo:
Forçada também ficou a sequência em que Margareth invade a casa da irmã, Carlota, e se serve da comida sem a menor cerimônia. Sabem quando dá aquela sensação de que “toda novela tem que ter núcleo cômico, mesmo que este pareça estar ali apenas por obrigação”? Uma dica: entre a naturalidade e a obrigação, prefiram sempre a primeira. Torna o texto mais fluido e interessante.
Quanto ao aspecto gramatical, notam-se diversos desvios ortográficos, como a pérola “Deus u livre.”. A palavra joia foi acentuada por várias vezes, embora o sinal tenha sido eliminado na Nova Ortografia. A autora também deixou de colocar as vírgulas nos vocativos (chamamentos) e em outras estruturas que as exigiam.
As descrições variam em qualidade. Algumas bem explicativas, e outras feitas com tanta pressa que não é possível imaginar se os personagens conversam de pé, sentados, juntos, abraçados, afastados… Eles não apresentam as características físicas dos personagens, o que nem condeno, mas poderiam trazer pelo menos as ambientações. Como é a sala do apartamento do Paulo? Como é a loja do Carlos por dentro? Senti falta. Sobre os diálogos: amarrados e cotidianos em alguns momentos; caricatos em outros; artificiais e saltados no restante das cenas. Não há uniformidade.
Para fechar a análise, destaco alguns personagens. Carlos, Tamara e Rafaela, membros de uma família que poderia ser de um comercial de margarina de tão (quase) perfeita. A autora soube colocar aquela mancha que os torna humanos como nós, que é o de os pais darem toda a atenção para Paola e se esquecerem, mesmo sem se dar conta, da mais velha. Rafaela é uma menina sonhadora que se fecha em uma casca grossa que “esconde” a carência. Paulo, por sua vez, é um homem fracassado, invejoso e fraco que tenta arrastar o irmão para o buraco como forma de vingança ou de compensar o “mal” que provocou. Chega a ponto de se nivelar com os filhos adolescentes nas discussões, de tão oco que é por dentro. Aliás, sua família é o oposto daquela do irmão: problemática, sem estrutura nem virtudes. Tudo muito frágil e efêmero. Ponto cheio pra você, Selma!
Ouro Blindado é um típico folhetim que traz personagens do bem e do mal, em um certo tom mexicano, sem pretensões de ser um grande clássico ou uma novela premiada. Vem para entreter e emocionar com uma boa história, embora possua as falhas mencionadas acima de estrutura, escrita e construção de personagens.
Se quiserem acompanhar a trama até o fim, todos os capítulos estão disponíveis no site da Ranable Webs.
Espero vocês no próximo post. Um abraço!